Ruas de Coimbra são "a casa" de muitos sem-abrigo

São muitos os sem-abrigo que, diariamente, procuram comida e dormida nas ruelas de Coimbra. Sozinhos, desamparados, lutam por um "final feliz".

 

Pelas ruas de Coimbra, são dezenas os sem-abrigo que procuram um canto da cidade para se instalarem. Solitários, desabrigados e desprotegidos, esperam diariamente por alguém que os ajude.

Cada vez mais, o perfil do sem-abrigo tem vindo a ser alterado. Já não são só os toxicodependentes ou os “desgraçados” entre os 40 e os 50 anos que vivem nas ruas. Hoje em dia, o conceito de sem-abrigo estende-se a jovens, muitos deles com cursos superiores, que, dada a conjuntura económica e social, não conseguem vingar na vida profissional.

Esta é uma situação existente há muito tempo, com tendência a prolongar-se, nomeadamente na procura de instituições que os abastecem, como é o caso da Associação das Cozinhas Económicas da Rainha Santa Isabel que, por 1,40€ ou gratuitamente, alimenta aqueles que mais carecem.

 

Ajudar nunca é demais!

Em Coimbra, são várias as instituições que acolhem, alimentam e apoiam os sem-abrigo. A Cruz Vermelha, a Cáritas, a Associação Integrar e a Casa Abrigo Padre Américo são exemplos de associações que, através de donativos, tentam auxiliar o máximo de pessoas carenciadas.

Abel Figueiredo, vice-presidente da Cruz Vermelha de Coimbra, refere que tentam amparar algumas das necessidades básicas dos sem-abrigo há cerca de um ano. Distribuem, todas as semanas, produtos alimentares, medicamentos, roupas e cobertores por aqueles que mais precisam, com o objectivo de minorar a sua dor e sofrimento.

A Equipa de Apoio Social Directo da Associação Integrar incide sobre os sem-abrigo, na tentativa de integrá-los na sociedade. Luís Ferreira, técnico da Equipa de Apoio Social Directo, revela-nos que realizam “giros” nocturnos pela cidade de Coimbra todas as terças e quintas-feiras, com o intuito de distribuírem géneros alimentares e roupas em pontos específicos da cidade. A par deste auxílio, tentam estabelecer uma relação, de modo a perceber quais as principais necessidades dos sem-abrigo e onde podem intervir directamente. Segundo Luís Ferreira, as principais carências são a alimentação, os cobertores e as relações interpessoais.

A Casa Abrigo Padre Américo, inaugurada a 6 de Novembro de 1993, trabalha na mesma área, acolhendo e protegendo temporariamente pessoas sem-abrigo, emigrantes e mulheres vítimas de violência doméstica. Promove a reinserção social e as experiências fraternas e comunitárias a que todos os seres humanos têm direito. A Casa Abrigo Padre Américo tem como acções principais fornecer refeições, alojamento, higiene, tratamento de roupas e cuidados médicos. Esta associação incide ainda em tratamentos psicossociais, encaminha para a formação profissional e proporciona actividades ocupacionais para aqueles cuja rotina diária é divagar pelas ruas da cidade.

 

Um olhar diferente

João Paulo é um sem-abrigo igual a tantos outros. Chegou a esta situação devido ao divórcio dos pais, quando apenas tinha treze anos. Achou que o haxixe seria a solução para o seu problema. “Tornou-se uma bola de neve”, explica, que o levou posteriormente a consumir heroína e cocaína. Perdeu tudo. Amigos, companheiros, casa, pertences… Ficou na miséria e no desespero da toxicodependência. Passava os dias a deambular pelas ruas de Coimbra, a beber, sem saber onde iria dormir nessa noite. Foi-se instalando pelos cantos das ruelas, procurando ultrapassar mais um dia e sobreviver.

Foi a instituição Farol, pertencente à Associação Cáritas, que o ajudou. Acolheu-o nas suas instalações, dando-lhe alimentação e roupa lavada. João Paulo é hóspede do Farol há cerca de um mês, mas ainda sofre na pele o estigma e o preconceito que as pessoas têm perante os sem-abrigo. Revela que se sentia desamparado, em crise psicótica, sem ninguém. Tinha apenas os chamados “amigos do pó”, que na realidade não eram amigos.

João Paulo sente-se muito grato por o terem ajudado a “sair do buraco” em que estava a cair.

 

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